É habitual compartilhar diariamente hábitos, pensamentos e situações cotidianas em redes sociais, acompanhando o desenvolvimento de quantas pessoas receberam aquele conteúdo, quantas pessoas gostaram ou concordaram. E se, tudo isso trouxesse a sua rotina consequências sociais que levassem ao desemprego, por exemplo?

O cinema se mistura com a vida real. Em 2016, o cinema criou um episódio que tratava diretamente sobre as questões de avaliações sociais por meio de redes compartilhadas, onde a nota recebida por seus comportamentos levariam seu status para alguém muito bem sucedido de vida ou alguém em situação de vulnerabilidade.

O Partido Comunista Chinês criou ferramentas tecnológicas que utilizam reconhecimento facial, monitoramento de redes sociais, registros tradicionais, históricos de pesquisas e compras eletrônicas e outros meios, para atribuir avaliações comportamentais dos cidadãos, com a justificativa de que os créditos são para garantir a segurança da população. Apesar de ter tomado conhecimento mais recentemente, esse programa foi criado em 2009 antes de abranger o "piloto nacional" em 2014, onde apenas alguns governos locais aderiram ao sistema. Apesar de não funcionar em todo o país, o governo Chinês declarou que tem efetivamente tentado disseminar o programa em nível nacional.

Não existe a possibilidade de não participar dos créditos sociais, pois trata-se de um programa obrigatório. Alguns cidadãos comentaram positivamente sobre o sistema e que seguir as normativas de pontuação alta, os fizeram ser melhores para a sociedade em geral, tendo maiores consciências sobre os atos públicos. Assim como no cinema, o programa também pode afetar a capacidade de conseguir empregos, acessar internet ou viajar, ter licenças indeferidas e bloqueio a alguns serviços sociais, acesso restrito à serviços públicos, nenhum acesso a escolas privadas e chegando ao absurdo de ter um embaraço público, ou seja, exposição online ou em TVs. Quem atribui esse mérito é o governo, decidindo ou não retirar os pontos conquistados de acordo com seu comportamento e opinião. Mas, vai além. As outras pessoas também podem influenciar na sua nota, vigiando, auto policiando e denunciando os atos e assim, ampliando o alcance de avaliação sem esforço do governo.

Há uma correlação feito pelos internautas que o sistema é uma alegoria à distopia 1984, uma obra escrita por George Orwell, que se passa em Londres, no ano de 1984 sob a supervisão e atuação de um governo totalitário, onde a população é constantemente vigiada. Por causa dessa visão, pesquisas sobre o conteúdo do livro foram censuradas na China, assim como outros assuntos, exemplificados Tiananmen Square, os artigos do incidente de 89 não aparecem nos resultados de busca, Imperador, censura e 1984.

Quando a pontuação permanece alta, há benefícios que podem ser aproveitadas como prioridade em vagas de escolas e empregos, acesso mais fácil a empréstimos e créditos financeiros, alugueis de bicicletas e carros livre de caução, academias gratuitas, passagens baratas em transportes públicos, menor tempo de espera em hospitais, promoções no trabalho, prioridade na habitação popular e incentivos fiscais. 

O Sistema Dang'an retém um dossiê exclusivo sobre cada pessoa, recolhida de variadas formas ao longo de toda a vida, mas da qual a pessoa não tem acesso. Solicitar ou tentar obter as próprias informações é considerado uma violação grave da lei e pode colocar em risco a integridade de quem cometer o ato. Para que isso seja controlado de forma eficaz, alguns sites são totalmente bloqueados por um firewall monitorado por um órgão censor, como youtube, twitter, google, facebook e a wikipédia. Algumas transmissões ao vivo são controladas por método de atraso e captura de tela e, caso aconteça alguma irregularidade, a transmissão é cortada de imediato. Desde a Lei de Segurança Nacional, os chineses são impedidos de promover qualquer manifestação contra o partido comunista chinês. Qualquer manifestação neste sentido é considerada traição. Todos esses âmbitos influenciam diretamente na pontuação de cada pessoa na sociedade chinesa.

Campos de Reeducação

Atualmente, existem um milhão de dissidentes religiosos em centros penitenciários chamados de Centro de Treinamento Vocacional, que coletam DNA para controlar os cidadãos. Apenas os Estados totalitários podem fazer esse controle com câmeras, coletas de DNA e impressões digitais. Os opositores que seguem religiões desaprovadas pelo governo são enviados para esses centros a fim de aprender e seguir o socialismo ateu da China. 

Ana Carolina Pavan